A ideia de que a inflamação é o alicerce — a base — para o desencadeamento de diversas doenças metabólicas não é novidade. Mas você sabia que a inflamação é uma resposta necessária de DEFESA do nosso corpo? Pois é: não é toda inflamação que é maligna. Eu proponho um novo olhar à inflamação — vou explicar para vocês quando a inflamação é necessária e quando temos que combatê-la.
Para ficar mais fácil, farei uma analogia simples. Quando cortamos o dedo e ele sangra, o que acontece? A tecido inflama, certo? Sentimos dor, ele fica levemente vermelho, fica com uma temperatura mais alta, levemente edemaciado e aquele tecido temporariamente perde a sua função. Ou seja: inflamamos! Com este estado inflamatório, o corpo ativa o nosso exército de defesa — nosso sistema imunológico — e avisa “vamos ao combate desta inflamação! Amigas células de defesa, vamos ajudar o tecido que foi lesionado a fechar este corte para que nenhuma bactéria entre no corpo”. E com esta mensagem, o corpo ativa diversas sinalizações de inflamação para ajudar o tecido lesionado a fechar o corte.
Quando o corte finalmente foi cicatrizado, o sistema imune, nosso exército de defesa, é redirecionado e “desativado”até a próxima sinalização de inflamação. Quando o corte é fechado, a inflamação cessou. Este tipo de inflamação, que tem começo, meio e fim — a de alto grau e aguda — é absolutamente necessária para nossa defesa contra patógenos.
Em contrapartida, temos a inflamação de baixo grau e crônica. Esta é uma danada. Por que? Ela é sorrateira e vai comendo pelas bordas. Quando estamos em um padrão de inflamação crônica de baixo grau, o que ocorre? Nosso sistema imune nunca fica “desativado”, ele fica sempre levemente ativo e com a sinalização inflamatória sempre ocorrendo. Nosso exército de defesa é levado à guerra sem a presença de real inimigos. Essa sinalização crônica ao longo do tempo vai diminuindo nosso metabolismo, vai alterando nossa flora intestinal, vai atrapalhando nossa concentração, nosso pique ao longo do dia, altera nosso humor, altera nossa capacidade de ter um sono restaurador. Ela vai bagunçando nosso corpo inteiro, devagar e sempre. Sem dar muitos sinais visíveis.
O que desencadeia isso? Em resumo, uma alimentação pouco saudável, com uma alta carga glicêmica e baixa carga nutricional, aumento do consumo de açúcares e gorduras saturadas e trans, pouca ingestão de água, sedentarismo, excesso de bebida alcoólica e tabagismo. Uma vida nessas condições vai inflamando nosso corpo aos poucos, e ativando nosso sistema imunológico desenfreadamente. E aí vamos ficando mais cansados, com menos concentração, com alterações de humor, a qualidade do sono piora, a vontade de comer docinhos aumenta. Isso pode ser tão grave que tem o potencial de gerar neuroinflamação, podendo desencadear quadros de declínio cognitivo. Um horror. Estão vendo que não é que adoecemos da noite para o dia, a inflamação vai desacelerando nosso metabolismo devagarzinho. Safadinha.
Como combatemos isso? Prestem atenção na qualidade da alimentação, pratiquem atividade física regularmente, evitem o excesso de bebida alcoólica, evitem excessos de açúcares e farinhas refinadas e de gorduras saturadas. Conversem com o profissional de saúde que te acompanha para ver qual a melhor estratégia nutricional para você.
Em resumo, existem dois tipo de inflamação: de alto grau e aguda, e a de baixo grau e crônica. A primeira é a nossa sinalização de defesa, a segunda é uma encrenqueira e sorrateira, e é justamente esta que temos que combater. Seja ela qual for, há necessariamente cinco estados: dor, rubor, calor, edema e perda de função.
Vamos comer bem e direito para que nosso corpo fique com um sistema imunológico menos hiper-reativo e mais direcionado para a defesa contra elementos patogênicos. Viva a sabedoria do nosso organismo! Eu acho isso um espetáculo, não é?
Texto escrito pela nossa colunista e nutricionista Ana Murbach.Para quaisquer dúvidas entre em contato com a Ana pelo Insta: @ammurbach
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